terça-feira, outubro 15, 2013



VALDEMAR AVEIRO e os seus murmúrios


Já o tinha referido: na passada tarde de dia 10 fui à LELLO, monumento de uma beleza perturbante, carregadinha no seu porão de tudo quanto, de escrita, se publica neste País, onde um autor faz o possível e os impossíveis para se ver na frontaria do livro esparramado na montra…

Escrever….escrever….sem nunca mostrarmos verdadeiramente quem fomos e o que somos. Porque a verdade é que o que fazemos ou dizemos, é apenas uma parte de nós.

Ora eu fui assistir à apresentação do livro com que o meu amigo Valdemar Aveiro, encerra (por ora) a sua trilogia sobre a pesca do fiel amigo, não já no capítulo da Faina Maior (título soberanamente copiado do «Grand Métier», francês) mas na Faina Menor, onde curiosamente, aqui sim, o Capitão era o maior, o único.

Não sei porque Valdemar (ou alguém por Ele) escolheu o título poético «Murmúrios do Vento».

Basta ir à página 121 e ler:

Quando ao vento, insensível ao estratagema, bufava iracundo (…) rasgava em pedaços as velas, partia mastaréus…

Ou

 O primeiro, de humores muito variáveis, passava de uma postura pachorrenta, de calma podre, a um ciclone medonho…  

Não; não há naquela vida que o Valdemar nos consegue contar de um modo leve, misturando para isso a dureza com as saborosas estórias do rancho, como que a dizer-nos… «bem a vida era assim, mas aquela gente tinha coração, alma, e até…sabia rir….». Um homem não é de pau. E por isso «as garinas» aparecem e desaparecem, mas curiosamente, sempre respeitosamente, cumprindo a sua missão.

Na pesca não há lugar para eflúvios poéticos. Aquilo é para quem deixa a poesia em interlúdio, página marcada, à espera de voltar à paz quente da lareira familiar, que Valdemar sempre teve nos intervalos da rudeza descabelada daquela vida.

A maneira privilegiada com que Valdemar recria as relações humanas, que promove até ao cuidado extremo de distinguir o lugar do «camião cisterna» a que por matreiro interesse senta à sua direita, permite perceber como teria de ser um excelente e matreiro pescador. Valdemar só nunca ofereceu um vintage ao bacalhau, para melhor o enloilar, foi porque o ganídeo é comprovadamente alérgico ao dito. Senão…   

O Dr. Aguiar foi de novo o apresentador. E fê-lo bem, de um modo inteligente, capaz de captar a atenção aos presentes (o actor não é o apresentador…): foi buscar ajuda ao Arq. Paradela, para partilhar a sensação de que este livro é mais do que lá está. É uma partilha de quem, (talvez abusando da primeira pessoa – o Valdemar é isso mesmo!, todos o sabemos!),  no momento próprio,  divide  com «os  seus rapazes» a vitória,  que foi a sua vida profissional.

O Valdemar é um mão cheia de virtudes (e uma das principais características, é a soberana atitude de pedir para os que precisam).
 Claro que alguns gostam de lhe catar um ou outro defeito. Pudera!!!!!  A vida do Valdemar era um campeonato: havia os bons, os assim-assim, e os «trutas». Por estes se aferia o que os outros faziam. Valdemar expressa despudoradamente nos seus livros – mas era assim mesmo – com que grupo (fechado) de capitães pescadores mantinha «a ratice» de brincar ao gato e ao rato.  

 Por isso...
 
Senos Fonseca

 

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