domingo, novembro 10, 2013



 Ao  crico....

Em um destes dias da semana, que hoje termina, logo de manhãzinha, aprestava-me eu para o exercício físico diário, matinal, fiquei pasmado como espectáculo que se me deparou, ainda mal tinha transposto a porta.


Dezenas e dezenas de pequenas embarcações apinhavam-se na c’roa da Biarritz. Na sua beirada  uma multidão de gentiaga gadanhava com as cabritas as areias que a maré punha a descoberto.

Olhando mais para Sul,constatei existirem outros dois grandes bancos de pesca  da apanha do crico: – um em frente à antiga mota das barcas, e um outro já embrenhado no canal de Mira.

Fui observá-los, tentando fazer um calculo das embarcações envolvidas neste esforço de pesca :  eram cerca de 250,num total de MIL!!!!!mariscadores(e mariscadeiras) embarcados.
Espectáculo deslumbrante. Uns nas bateiras(ou chatas que hoje substituem o bateirame),cabritando de dentro; outros na c’roa, gadanhando,enquanto o mulherio  passava o crico   para as nassas,  para logo depois o lavarem à borda,ensacando-o de imediato.

Abordando uma tripulação, inquiri qual seria a média da apanha por embarcação. Cerca de 200kg!!!.Isto significa, apenas, que neste canto da Ria se pescam por maré mais de 5 Ton,que segue logo para Espanha.

Ora se pensarmos que do outro lado (canal de Ovar) o esforço de pesca é igual, senão maior, constata-se  como ainda hoje a Ria é, um celeiro  pródigo para a sustentabilidade da pesca artesanal.Cujos réditos  superam  o valor vendido em lota, da pesca costeira. E há que admitir que se calcula que no referente à apanha da ameijoa, apenas um quinto do valor apanhado passa pelas malhas do controlo.

Durante toda a semana tem sido uma azáfama. A apanha continua e o berbigão está simplesmente esplendoroso.










Esta apanha do crico (trato deste assunto no livro «Bateiras», em fase de conclusão), vem de tempos longínquos, tendo sempre uma importância fundamental na actividade piscatória (tendo  sido  criada, mesmo, uma embarcação própria para a sua apanha:- a Berbigoeira.


 

 

                                                                     Berbigoeira c/sarilho

Enfim: do meu terraço o dia surge esplendoroso de vida. Bendito o sítio que em tempos escolhi .Aqui sinto-me defendido das agressões da vida. Rendido à  grandiosidade  da natureza, com o olhar encharcado  desta   luz     imaculada,a   sublinhar e dimensionar  estas figuras            humanas. Por vezes dando-me a ilusão da eternidade.
SF  Nov 2013
 

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