domingo, março 15, 2015



              LAVRAR O MAR





                                                                     
 

Olho aqueles corpulentos

 Majestosos e hercúleos

 Bois da velha  companha

 Que enlaçados ao  calão da rede

 A  vão alando até  deixar ofegante na praia

 A  parir  do ventre estripado

 O prateado peixe roubado ao mar.

 

 

 Animais  vindos do  lado de lá

Do perfume adocicado da resina

 dos pinheirais

 Trouxeram-nos à borda a  lavrar  o mar.

 Vão nas manhãs de nevoeiro  em parelhas

 Cabeça baixa, olhar torvo, parecem, citados pelo mar,

 A investir  por ele vaga adentro encharcados.

 

                                               
 

 
Afagados pela maresia

 Nos dias de sol espraiado

 Vejo-os resfolgarem, nariz no ar

 À procura de uma sombra no areal caiada,

 Que aqui não existe. Parecem velhos...

 Os bois nasceram já velhos

 Na cor pardacenta do seu costado.

 

 

 Velhos no sossego da sua existência

 Vão  ruminando no alento da noite, a  sua ausência,

 Para no amanhã prateado voltar ao fadário.

 Sob sol escaldante ou chuva de tarde desmaiada,

 Fustigados pelo vento gélido da madrugada

 Seguem de  olhos turvos, despidos de um qualquer sudário,

 Parecem amarrados  a uma  existência amargurada.

 

 

 
Sigo-os duna  abaixo

 Ao encontro do mar ousado, quebrado

 Mar  amargo,mar azul de tão salgado

 A açoitar o xávega, que alevantado teima  ir,

 Lá longe onde moram as sereias,

 Largar a rede para  tirar do ventre do mar

 A prata que a terra não pode parir.

 














 E lá vão, dobrados, encabrestados

 Vão ao  tropeço  na areia  lassa  da duna.

 Fustigados pelo aguilhão do .abegão

 Levam à sua frente, aos tropeções, os mirones

 Que vindos  de madrugada, de chapéu e botifarras,

 Calça arregaçada, desertam em louca debandada

 Em tropel, fugindo na frente  do estoiro da manada.            
 

 

 Na praia já se alinham os xalavares.

 Os bois doridos pela jornada

 Parecem  perdidos no areal

 Semeado  de escasso espezinhado, prateado.

 Hoje não há mais ir e voltar

 Hoje  mar... podes ir  acolher o sol dourado

 E com ele ir, lá  longe, nos longes teus, namorar.

 
                       [ para que as gaivotas voando sobre os vossos beijos,
                       me venham  de madrugada contar a estrela do pássaro e
                        a estrela  do grito teu....MAR!

            SF (Março 2015)


(Escreveram - se  belas páginas a descrever o tumulto grandioso da  arte xávega. Esquecendo

figurantes de primeira que encheram de espanto poetas e simples mirones. Hoje resolvi prestar jus

 a quem, ficando na praia, permitiu aos outros ir ver os sóis fugidios).

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