terça-feira, junho 16, 2015


 

FREDERICO DE CERVEIRA

 Recebi de pessoa amiga(e minha parente) um exemplar de «Os Sucessos»,de 22 de Janeiro de 1921,em que em  na primeira e segunda página, se dava conta  do infausto acontecimento que foi a morte do distinto ilhavense, Dr. Frederico Cerveira.
 
 

 
Dr Frederico de Cerveira
 
  Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, Frederico de Cerveira casou com a sua prima, D. Henriqueta Maia(filha do ilustre  Maia Alcoforado, dono do Palacete dos «Maias Alcoforados»).


                                                                    Brasão Dos Maias Alcoforados

 Distinguia a D Henriqueta ,o ser uma piedosa Senhora ,pródiga em ajuda aos pobres, deslocando-se semanalmente ao terreiro onde mais tarde se ergueu o Mercado Municipal, por Diniz Gomes.E nesse local distribuir esmolas aos necessitados que ali vinham esmoçar. E quando dava por falta de algum, a D.Henriqueta  mandava a esmola a sua casa .Por isso, no historial de Ílhavo ,esse terreiro foi por vezes conhecido, por «Chão dos Pobres», confundindo-o com a verdadeira história da Viscondessa de Almeidinha(outra prodigiosa  benfeitora).

Ora como referimos ,Henriqueta Maia casaria com Frederico de Cerveira. Este apoiava e incitava a sua Esposa para tão virtuosa acção. Refere «Os Sucessos`», que  Cerveira  era um desvelado protector da pobreza, que exercia às ocultas aquela sublime virtude, enxugando muitas lágrimas ,mitigando muitas dores ,levando o conforto a muitos lares sem pão. Era um bom e um justo!

Anualmente, em dia certo ,franqueava  os portões de sua casa, para aí oferecer um lauto bodo aos pobres da Vila.

Frederico de Cerveira conseguiria o que o seu sogro nunca conseguiu: ser Presidente da Câmara Municipal deÍlhavo.

Nas obras que à frente da Edilidade lhe são atribuídas, conta-se a estrada da ligação de Ílhavo à Costa-Nova.Importante via de ligação que muitos benefícios trouxe às Gafanhas, mas e também,  a toda a gente que diariamente se deslocava  àquela praia, para aceder á labuta das companhas-E para os muitos almocreves, que percorriam a mesma ao amanhecer, a reservar boa compra. E ao entardecer, por ela partirem com os seus burricos carregados da bela sardinha, depois de afagado o estomago com uma bucha , recobrado o ânimo de caminheiro das tortuosas e escuras  veredas serranas, com um bom copo de tinto bairradino ,cobrado no altar da loja de fim de linha da velha Ti Norta. Que os jericos ,esses !,tinham estagiado o dia no alpendre da boa velhota que lhes distribuíra fresca ração, retemperadora  das andanças das idas e vindas ,sempre em correria desbragada.

Ainda o céu não garimpara lá no serradio do Caramulo a iluminar o cuidador das almas, o  S. Giraldo, e passada a nova ponte do Juncal Ancho, era já um corrupio de gentiaga, que a pé, em conversa animada ,passo miúdo muito lesto, em grupo de conversados, procurava apanhar a primeira barca da alva, do Ti Labareda.  

Foi ainda a Câmara de Frederico de Cerveira que adquiriu o terreno  contiguo ao «Casarão dos Pinto Basto», onde mais tarde se instalou o Mercado Municipal.

Frederico de Cerveira foi, depois do cargo exercido, convidado para Governador Civil. E ainda  para Deputado da Nação, tendo recusado um e outro, pois não se sentia bem afastado da Família e das suas gentes.

O casal Henriqueta Maia e Frederico da Cerveira não teria filhos  e o seu Palacete foi parar às mãos do seu médico familiar Dr Ritto.


Ílhavo atribuiu, à rua que vai da Igreja  Matriz (antigo Passal),  a Alqueidão (desembocando no Palacete ), o nome de Frederico de Cerveira, assim o homenageando .Talvez muitos não saibam, contudo, é que nessa rua existiam dois pontões de pedra, em tudo  idênticos á chamada «ponte romana da Malhada», servindo para passar por cima do Rio da Vila.

David Rocha (excelente poeta ilhavense) dedicou-lhe poema enaltecedor

                       (....)

                    Ai quantos infelizes tornarão

                    A ir bater  à porta do Solar

                    Na ilusão que há-de vir ainda

                    Alguém na sua miséria atentar

 
                    Mas não encontram já seu Benfeitor!

                    E ali só vem a voz da eternidade

                   Dizer que aquela casa triste e só,

                   É um passado morto e uma saudade!....

SF



Sem comentários:

  67.   Poemas de Abril Abril: síntese inalcançável Já não há palavras  Que floresçam Abril,  Nem já há lágrima...